04 dezembro 2009

Mulheres que Amo - Foi o Destino

Primeiro, me desculpem por estar demorando tanto para postar. Compromissos, compromissos... e falta total de idéias. Vamos ao que interessa... esta semana o texto fala de sonhos de princesa e cavaleiros de armadura... que enferrujam e envelhecem, passando a encontrar a realidade de frente. Uma colisão digna de dias de feriado. Leiam e espero que gostem.



Conheci a Fabiana no inicio do Segundo Grau. Ela era o que nos chamamos hoje em dia de: 'mulherzinha'. Sonhava com o casamento desde que passou a compreender a relação homem e mulher. Ela acreditava ser a própria Cinderela, só faltava o príncipe encantado, que se materializou no corpo do Paulo.
Paulo era o senhor popular de nossa época. Atleta do time de futebol e de boxe, também vinha de família rica, formada por engenheiros da construção civil, carreira, é claro, que ele iria seguir, tradição de família. Paulo com 16 já havia namorado algumas das meninas mais bonitas do colégio e do bairro dele. Todas passageiras, nos dias de hoje, 'ficantes'. Na época chamávamos as meninas por outros nomes, basicamente por inveja, mas vai fazer o quê.
Fabiana, como todas as cem outras meninas bonitas do nosso colégio, se apaixonou perdidamente por Paulo. Este nem ao menos sabia que ela existia. Até acontecer aquele encontro mágico, onde um olha para o outro e vê algo inexplicável, que apenas é possível sentir entre eles. Se apaixonaram, ele largou até uma das meninas da equipe de ginástica, que tinha um corpo, uau. Era o destino! Era o amor!
O namoro aconteceu apenas no nosso último ano de colégio, época de vestibular. Os pais queriam até tentar segurar o fogo do casalzinho, para não atrapalhar os estudos, mas amor igual aquele, não aconteceu em toda a história do colégio da nossa época. Era certo, consequência imediata: casamento. A coisa era tão séria, que ao falarmos com ele sobre casamento, ele nem desviava do assunto. "Vai ser depois da formatura, até lá já tenho um apartamento para vivermos juntos." Filhos? "Um casal!" era a resposta na lata dele. Era o amor! Não é lindo?
Tudo aconteceu como descrito nos contos de fadas, ambos passaram no vestibular, para a mesma Universidade, cursos diferentes. Ele fez Engenharia Civil. Ela fez nutrição. Em quatro anos estavam formados. Ele no último ano já trabalhava com o pai, ela, pelo contrário, resolveu não fazer estágio, pois tinha que cuidar dos assuntos do casamento e cuidar do apartamento onde criariam o seu ninho de amor.
A cerimônia de casamento foi a mais bonita que já fui na minha vida. Realizada no pátio do melhor clube da Ilha do Governador, em um belo dia ensolarado de novembro. O sol de fim da tarde e a brisa marítima compuseram o ambiente idílico perfeito para embalar os sonhos de ambos. Toneladas de fotos foram tiradas para lembrarem sempre daquele momento mágico sem par em suas vidas. Ambos, eram a estampa da total felicidade. Ele nem parecia um homem preocupado com o início de uma vida adulta e atribulada, estava completamente entregue ao amor que sentia pela bela Fabiana.
Após o casamento, nossas vidas tomaram rumos completamente diferentes e não nos vimos mais. Anos depois, no supermercado, vi Fabiana fazendo compras com uma garotinha de uns seis anos de idade correndo ao seu redor. Com certeza, era filha dela com o Paulo. Chamei, acenei. Ela, ao me ver, veio correndo com o carrinho e me cumprimentando, como nunca tivéssemos deixado de nos falar. Terminamos nossas compras e resolvemos fazer um lanche e relembrar os 'bons e velhos tempos'.
Adoro crianças, por este motivo, enquanto Fabiana levou as compras pro carro, fiquei brincando com a bela menina. Seu nome era Simone e olhando-a de perto, achei que não tinha nada haver, nem com Fabiana e nem com Paulo, mas o que eu entendia deste tipo de coisa. Fabiana voltou, sentou e pediu um chope, para minha primeira surpresa. Nunca antes havia visto ela beber uma bebida alcoólica, nem mesmo ponche. O chope chegou e ela sorveu um gole de bebedor experiente. Quase dei uma gargalhada. Ela percebeu e sorriu.
Perguntei pelo Paulo e disse que a filha deles era linda. "Não é filha dele!" Quase engasguei com o pastel que estava comendo. Acho que um pedaço de carne foi bater no braço dela. Ela, percebendo o quanto eu estava aturdido, explicou: "A Simone é minha filha com o Eduardo!" Eduardo... e quem diabos é Eduardo?! "Eduardo é meu segundo marido! Bem... segundo não... tá mais pra quarto, mas os outros não contam, pois só namorei e morei um tempo com eles." E o Paulo?! "Não tenho a menor ideia, desde que nossa filha mais velha foi morar sozinha, nos Estados Unidos, não nos falamos mais." Ela começou a rir e bebeu seu chope até o final. Ali, tive certeza... aquela não era a Fabiana. Clone? Sósia? Gêmea? Ou sei lá mais que possibilidade louca um escritor de ficção poderia escolher, mas, definitivamente, aquela não era a Fabiana.
Então, ela deu uma resumida na vida que percorrera até chegar ali, quase vinte anos depois da última vez que nos vimos. Ela e Paulo viveram o 'felizes para sempre' por um ano inteiro. O mundo parecia perfeito, até as primeiras brigas começarem. As discussões eram um caso à parte. As diferenças entre eles pareciam irreconciliáveis. Com um ano e meio, chegaram mesmo a se separar. Cada um foi para um lado, mas resolveram voltar e se arrependeram de tudo que disseram e fizeram. Eles se amavam e não podiam jogar aquilo fora por causa de umas discussãozinhas bobas e infantis.
Veio, então, a primeira e única filha que tiveram. Entraram em um novo período de 'amor perfeito', mas que, na verdade, era o 'amor perfeito' pela bela princesa que haviam tido. O sentimento que ambos haviam experimentado na juventude e no período da faculdade... não existia mais. Mas 'empurraram com a barriga' o casamento. Este durou mais uns cinco anos, até que ficou impossível viverem juntos.
O fim do casamento, desta vez, não trouxe arrependimentos. Trouxe sim, muita mágoa de parte a parte. Acabaram usando a filha como instrumento de tortura um com o outro, pouco se importando com o 'imenso amor' que sentiam por ela. Houve até uma tentativa de reconciliação, quando Fabiana teve o primeiro namorado após a separação. Paulo implorou para voltar e disse que não podia viver sem ela e que ela era seu amor eterno. Voltaram e o 'amor eterno' durou apenas seis meses, com ele mesmo pegando as coisas e saindo de casa. Desta, não teve mais volta.
Não houveram mágoas e nem brigas por causa da filha. Cada um seguiu seu caminho e passaram a se encontrar apenas nos dias de visita. Com os namoros de parte a parte, nem nos dias de visita se encontravam. Élida cresceu rápido e passou a ficar distante de ambos. Até que com 14, conseguiu um intercâmbio nos Estados unidos e convenceu aos dois, que se mudaria para lá. De agora em diante, passaram a vê-la apenas nas férias. Nos dois últimos anos... nem isso. A filha e eles... eram completos estranhos.
A última notícia que teve de Paulo, foi que ele havia casado pela segunda vez, mas não sabia com quem e nem ao menos onde morava. "E pra falar a verdade, não tô nem aí pra isso!" Disse uma estranha que se identificara como Fabiana, minha ex-amiga de colégio. Nem cheguei a perguntar sobre os outros 'três' casamentos, pois se o único casamento em que eu apostaria para dar certo, foi por 'água abaixo', imagine o resto. Foi o destino!